quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Catrina.

Acordou no dia trinta e um de dezembro com um propósito mal acertado. Queria poder parar de errar no ano novo. Olhou para os lados e tudo o que viu foi uma mesma decoração mal acabada, que por falta de dinheiro era obrigada a encarar. Trabalho, esse seria o primeiro item de sua lista imaginária do que queria cumprir. Envergonhava-se toda vez que ia ao banco buscar sua mesada, lhe parecia idiota a idéia de sair de casa e depender dos pais. E de fato era.
Ao tentar pensar na segunda, várias coisas lhe vieram ao mesmo tempo e tateou no criado mudo seu maço de cigarros. Há meses tentou parar de fumar, mas já havia desistido, uma vez que lhe era um vício e sabia que contra seus vícios, ela não podia. E também porque a nicotina lhe acalmava, normal. Tratou de não gastar linhas de sua lista imaginária com isso. Acendeu um cigarro. A fumaça fedorenta lhe fez lembrar suas noites de diversão e concluiu que sem seus amores de uma noite só não podia ficar, outro vício. Necessitava de uma porcentagem de vadiagem, não tinha uma explicação aparente pra isso e ao lembrar-se da infância na igreja, se julgava, mas só até o primeiro gole de uma bebida forte. Não podia contra suas vontades.
Acabando por se achar idiota, se rendeu. Não queria mais listas, nem mesmo trabalho – seu primeiro item. Refletiu sobre felicidade e por mais que quisesse mudar uma coisa aqui, outra ali, se via bem, era acomodada. Portanto decidiu que estaria disposta a errar quantas vezes fosse preciso, se como consequência tivesse a mesma vida do ano que estava por se acabar.
Cigarros, vadiagem, bebidas, falsos amores, falta do que fazer... Assim ela era feliz, assim ela queria o ano novo. E sem objeções feitas a si mesma, virou pro canto e viu um corpo lívido dormindo calmamente. Levantou-se, trocou-se e foi-se embora daquele motel de esquina.
Aquela era a vida dela, era o que ela queria, seja lá quantos anos pudessem se passar.
E toda noite, mesmo na virada, adentrava aquele bar, ali sim tinha um propósito bem definido. Cada noite com um nome diferente, naquela noite, Catrina, como o furacão.



domingo, 26 de dezembro de 2010

My fucking love.


Não venha querer entrar de novo na minha vida. Rasgando cada ponto de costura que dolorosamente costurei. Não venha com olhar mole, sorriso bobo, palavras doces...
Não venha querer me confundir, me corromper, me persuadir. Não queira se tornar especial de novo. Eu já estou te avisando, eu não tenho mais tempo pras suas inutilidades.
De todos os novos planos que eu fiz pra minha nova vida, você não aparece em nenhum deles. Minha vida não está aberta pra você. Meus pensamentos não estão aptos pra sua imagem. Meu coração não aceita mais a sua presença, portanto, vá embora antes que eu te expulse com meia dúzia de palavras que te machucariam pra sempre.
Eu renasci de novo, eu encontrei um novo horizonte, eu ando vendo luz no fim do túnel e essa luz não reflete de você. Afinal, o que é você, se não uma sombra?
Me corrói essa falsa repulsa, me destrói essas lágrimas, me aflige essa pouca raiva – eu queria ódio.
E por fim, acabo por ficar estressada. Porque eu sei que se tem raiva, tem sentimento.
Se tem sentimento, tem amor.
E se tem amor, eu tô fudida.

domingo, 19 de dezembro de 2010

L.o.v.e.

E mesmo que tudo um dia pare. Meus passos, o vento, minha respiração. Eu ainda estarei aqui a esperar. Agarrando-me ao último fio de vida que me restar. Eu vou estar aqui, esperando por você.
Ainda que todos riam de mim, caçoem, debochem. Eu vou tapar meus ouvidos, ouvir uma boa música e pensar em você. E se eterno for o desprezo, ainda assim eu vou estar aqui e eterna será a minha espera.
É estranho imaginar a solidão que vou estar, já que você insiste em não chegar. Ao atordoar-me, me acalmarei. A espera é grande e semelhante é a recompensa.
Eu vou estar aqui no inverno, verei as flores crescerem, aguentarei o forte calor e no outono verei as folhas caírem. Mas eu ainda vou estar aqui, sejam lá quantos natais se passem.
Eu não me revoltarei, não me iludirei e nem me apaixonarei por outro que tente se passar por ti. Eu te olhei bem nos olhos e gravei o seu interior. Eu não me enganarei.
Quando chegares, peço para que não faças barulho. Os ouvidos invejosos estão por toda parte e eu quero guardá-lo longe de toda a sujeira desse mundo.
Eu estou aqui, sentada na calçada da mais deserta avenida, vendo uns outros que te possuem passarem entrelaçados, ás vezes até chorando e me segurando pra não sofrer. Mas eu ainda estou aqui, forte apesar de tudo, confiante e com um largo sorriso, somente a te esperar.
Vem amor, vem me encontrar.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Outro conto de dois.


Era uma tarde de sol, a praia estava esvaziando de pouco a pouco e eles estavam lá, a espera do pôr do sol, ela estava feliz aquela tarde, pois amava pôr do sol e estava certa que ele estava feliz ao seu lado. Estava certa de que ali, ele falaria o que ela estava esperando meses para ouvir, ela sentia que ele estava diferente. Ele diria então “eu te amo” aquela tarde?
O sol estava a se por, o céu estava espacialmente laranja e quando ela se colocou pronta para falar, haviam algumas poucas estrelas pipocadas no céu. A noite estava quase caindo por fim, o céu em um crepúsculo extremamente belo aos olhos humanos.
- Tenho que te dizer uma coisa. – Ela disse, por fim. Ela fitou o mar, estava com vergonha.
- Diga. – Ele, por sua vez, estava monossilábico demais o dia inteiro. Ela o olhou por fim, encarando o castanho escuro de seus olhos.
- Eu te amo. – Sorriu depois de pronunciar aquelas três palavras, parecia que seu coração havia ficado mais leve e o céu, mais bonito com isso.
Ele vacilou, desviando o olhar. Ele estava confuso.
- Preciso ser sincero. – Desabafou. Voltou a olhá-la. – Eu não te amo.
Os olhos da menina marejaram-se diante do mar.
- Pode me dizer o por quê? Quer dizer... Tem um porque, não tem? – Sua voz já falhava.
- Você é tão perfeita. – Ele disse se contradizendo sem querer. – Você é linda, meiga, carinhosa e inteligente. Gosta de pôr do sol, mas se perder ele, não se importa em se contentar com as estrelas. Você gosta de flores, e não liga pra presente. Você lê poesias, escuta músicas de muito bom gosto, sorri com o sol e ama a chuva. Dança como se não ligasse pro mundo e luta pela sustentabilidade. Quando gosta, ama. E quando não gosta, atura. Você é boa demais pra mim. – Ela ouvia suas qualidades sem entender. – Olha pra mim. – Ele disse, ela olhou. – Eu preciso de alguém que erre comigo, que não me intimide, alguém que não seja tão perfeita...
Ela não entedia, se sentiu mal por isso e sentiu até raiva de si, por ser como ele mesmo disse tão perfeita, mesmo conhecendo de perto sua infinidade de defeitos.
A conclusão que se tira disso é que, não adianta... Mesmo estando com a melhor pessoa do mundo, se você não amá-la de verdade, todas as qualidades dela serão nulas. Portanto desperdiçar seu tempo e magoar o próximo em vão, tentando achar coisa onde não tem, certamente não é o melhor a se fazer.