domingo, 1 de maio de 2011

Trouble.


Ela estava tão cansada da vida, que se perguntou se deveria estar nela mesmo. Sempre tinha esses ataques, umas crises existências terríveis e chatíssimas pra quem tinha que aguentar. O namorado, que agora carregava o prefixo “ex” não aguentou.
Tomar remédios não adiantava mais mesmo, acabou por se acostumar com eles. “Vaso ruim não quebra”. Não é o que dizem?
Vomitava, não comia e ainda insistia nos remédios. Porém nunca tentou suicídio, ou um dano menos relevante, porém não menos pior e por isso se achava covarde. Até aquele exato momento, que em punho segurava uma gilete que tremia freneticamente em sua mão suada.
A porta do banheiro estava encostada, não havia ninguém em casa. Porém, se desse sorte e se assim fosse o destino, alguém lhe acharia antes dar o último suspiro. No fundo ela queria que a achassem. Queria morrer não querendo. Amava um drama. Queria atenção.
Chegou com a gilete bem perto de seu pulso que pulsava rápido. Estava com sua adrenalina em alta, seu corpo entorpecido por um nervosismo incontrolável. Era aquela hora ou nunca mais, pois não teria todo o tempo para ponderar a situação como teve. Fechou os olhos com força, como se aquilo fosse amenizar a dor.
- Filha, cheguei! - Sua mãe gritou da cozinha. - Eu trouxe o jantar.
Caiu no chão sem forças nas pernas, largando o objeto cortante. Esteve tão perto, agora estava tudo longe novamente. A luz que devia ver ao chegar no paraíso estava há mil anos luz de distância. Se sentiu mais uma vez covarde, quis gritar. Se calou.
Quando se levantou – quando conseguiu – lavou o rosto e se livrou dos vestígios de sua experiência de quase morte.
Foi jantar com sua mãe e depois vomitou, apenas pra não se sentir tão covarde. Mal sabendo que aquilo tudo era a maior prova de covardia que podia ter, não encarando a vida como ela realmente é, se escondendo atrás de artifícios que faziam sua vida cada dia pior.

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